FORUM DE DEBATE POLÍTICO

terça-feira, maio 27, 2008

Para reflectir...

Artigo de Opinião do Camarada Mário Soares publicado hoje no Diário de Notícias:
POBREZA E DESIGUALDADES
..."Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com o Relatório da União Europeia(Eurostat) e o trabalho, coordenado pelo Prof. Alfredo Bruto da Costa, do Centro deEstudos para a Intervenção Social (CESIS), intitulado "Um olhar para a pobreza emPortugal", divulgados há dias, que coincidem em alertar para o facto de a "pobreza eas desigualdades sociais se estarem a agravar em Portugal". Surpreendido não fiquei.Mas chocado e entristecido, isso sim, por Portugal aparecer na cauda dos 25 paíseseuropeus - a Roménia e a Bulgária ainda não fazem parte da lista - nos índices dosdiferentes países, quanto à pobreza e às desigualdades sociais e, sobretudo, quantoà insuficiência das políticas em curso para as combater.Recentemente, cerca de 20 mil cidadãos portugueses, impulsionados pela ComissãoJustiça e Paz, dirigiram à Assembleia da República um apelo aos legisladores paraaprovarem uma Lei que considere a pobreza uma violação dos Direitos Humanos. Foi umamanifestação de consciência cívica e de justa preocupação moral - que partilho -quanto à pobreza crescente na sociedade portuguesa. E acrescento: a revolta quantoàs escandalosas desigualdades sociais, que igualmente crescem, fazendo de Portugal,trinta e quatro anos depois da generosa Revolução dos Cravos, o país da UniãoEuropeia socialmente mais desigual e injusto, ombreando, à sua escala, naturalmente,com a América de Bush... Ora, a pobreza e a riqueza (ostensiva e muitas vezesinexplicável) são o verso e o reverso da mesma moeda e o espelho de uma sociedade acaminho de graves convulsões. Atenção, portanto.Eu sei que o mal-estar social e as dificuldades relativas ao custo de vida que,hoje, gravemente afectam os pobres, mas também a classe média - e se tornaram,subitamente, muito visíveis, por força da comunicação social - vêm de fora e têm,evidentemente, causas externas. Entre outras: o aumento do preço do petróleo, queacaba de atingir 135 dólares o barril; a queda do dólar, moeda, até agora dereferência; o subprime ou crédito malparado, em especial concedido à habitação (abolha imobiliária); a falência inesperada de grandes bancos internacionais e asescandalosas remunerações que se atribuem os gestores e administradores; o aumentoinsólito do preço dos géneros alimentares de primeira necessidade (cereais, arroz,carne, peixe, frutas, legumes, leite, ovos, etc.); a desordem geostratégicainternacional (com as guerras do Afeganistão, do Iraque e do Líbano, a instabilidadedo Paquistão, o eterno conflito israelo-palestiniano e as guerras em África); odesequilíbrio ambiental que, a não ser de imediato corrigido, põe o Planeta emgrande risco; a agressiva concorrência dos países emergentes, que antes nãocontavam; etc...Tudo isto configura uma situação de crise profundíssima a que a globalizaçãoneoliberal conduziu o Mundo, como tantas vezes disse e escrevi. Uma crisefinanceira, em primeiro lugar, na América, que está a alargar-se à União Europeia,podendo vir a transformar-se, suponho, numa crise global deste "capitalismo dodesastre", pior do que a de 1929. Uma crise também de civilização que está aobrigar-nos a mudar de paradigma, tendo em conta os países emergentes, e os seusproblemas internos específicos, uma vez que o Ocidente está a deixar de ser o centrodo mundo. Não alimentemos ilusões.Claro que com o mal dos outros - como é costume dizer--se - podemos nós bem. É umavelha frase que hoje deixou, em muitos casos, de fazer sentido. Vivemos num só Mundoem que tudo se repercute e interage sobre tudo.No entanto, no nosso canto europeu, deveremos fazer tudo o que pudermos, numaestratégia concertada e eficaz, para combater a pobreza - há muito a fazer, sehouver vontade política para tanto - e também para reduzir drasticamente asdesigualdades sociais. Até porque, como têm estado a demonstrar os países nórdicos -a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia - as políticas sociais sérias estimulam ocrescimento, contribuem para aumentar a produção e favorecem novos investimentos.Este é o objectivo geostratégico para o qual deveremos caminhar, se quisermos evitarconvulsões e conflitos.Depois de duas décadas de neoliberalismo, puro e duro - tão do agrado de tantos quese dizem socialistas, como desgraçadamente Blair - uma boa parte da Esquerda ditamoderada e europeia parece não ter ainda compreendido que o neoliberalismo estáesgotado e prestes a ser enterrado, na própria América, após as próximas eleiçõespresidenciais. A globalização tem de ser, aliás, seriamente regulada, bem como omercado, que deve passar a respeitar regras éticas, sociais e ambientais.Em Portugal, permito-me sugerir ao PS - e aos seus responsáveis - que têm de fazeruma reflexão profunda sobre as questões que hoje nos afligem mais: a pobreza; asdesigualdades sociais; o descontentamento das classes médias; e as questõesprioritárias, com elas relacionadas, como: a saúde, a educação, o desemprego, aprevidência social, o trabalho. Essas são questões verdadeiramente prioritárias,sobre as quais importa actuar com políticas eficazes, urgentes e bem compreensíveispara as populações. Ainda durante este ano crítico de 2008 e no seguinte, se nãoquiserem pôr em causa tudo o que fizeram, e bem, indiscutivelmente, para reduzir odeficit das contas públicas e tentar modernizar a sociedade. Urge, igualmente,fortalecer o Estado, para os tempos que aí vêm, e não entregar a riqueza aosprivados. Não serão, seguramente, eles que irão lutar, seriamente, contra a pobrezae reduzir drasticamente as desigualdades.Já uma vez, nestes últimos anos, escrevi e agora repito: "Quem vos avisa vosso amigoé." Há que avançar rapidamente - e com acerto - na resolução destas questõesessenciais, que tanto afectam a maioria dos portugueses. Se o não fizerem, o PCP e oBloco de Esquerda - e os seus lideres - continuarão a subir nas sondagens.Inevitavelmente. É o voto de protesto, que tanta falta fará ao PS em tempo deeleições. E mais sintomático ainda: no debate televisivo da SIC que fizeram osquatro candidatos a Presidentes do PPD/PSD, pelo menos dois deles só falaram nasdesigualdades sociais e na pobreza, que importa combater eficazmente. Poderá issorelevar - dirão alguns - da pura demagogia. Mas é significativo. Do que sentem osportugueses. Não lhes parece?..."

sexta-feira, maio 02, 2008

A crise mundial da água



" Entre as muitas coisas que aprendi enquanto presidente figura o papel central da água nas questões sociais, políticas e económicas do país, do continente e do mundo".
Nelson Mandela

A água potável e o saneamento básico sempre foram fundamentais para o desenvolvimento humano.

Ignorar este facto é pura e simplesmente cavar a sepultura no deserto...

Quando privamos o ser humano do abastecimento de água e de saneamento básico, estamos a agravar a pobreza e a vulnerabilidade.

Nos países em desenvolvimento, cerca de 50% da população está exposta a fontes de água poluída. Em todo o mundo mais de 2 milhões de crianças morrem por falta de um copo de água potável e de instalações sanitárias ( fonte: PNUD).

O que fazer afinal?

Temos de agir!

A decisão política é fundamental, se alicerçada em políticas sociais que vão ao encontro de um desenvolvimento sustentável para que a humanidade possa defrontar efectivamente a crise da água.


Montenegro Fiúza