A humildade da entreajuda
Estamos de todo imunes às calamidades de “telejornal”? Está visto que não.
Por cá também existe criminalidade. E, onde ela existe, não há segurança.
A nossa insegurança é, em muito, importada. É sabido que hoje em dia os criminosos procuram fazer uma vida normal e portanto quase sempre praticam o crime fora de portas.
Já não estou a pensar na criminalidade “bem” organizada que escolhe os alvos selectivamente. Estou a falar de uma espécie de “criminalidade para a bucha” ou então para a satisfação de uns instintos mais primários.
A punição desta criminalidade é importante mas é obviamente pouca. Não investir na sua prevenção é desperdício: de pessoas que podiam ser úteis e viver em clima mais saudável e de bens que muitas vezes são públicos e portanto benéficos para todos.
Se é possível identificar eventuais delinquentes em potência deveríamos actuar dentro das normas que a lei nos faculta. Até seria importante que contribuíssemos também com o nosso espírito de entreajuda. Onde houver desinserção social não podemos estar contentes e parados.
Hoje deveriam ter uma atenção especial os problemas da exclusão social e derivados. E dentre eles o caso específico da auto-exclusão. Este fenómeno que quase só vemos surgir no contexto da toxicodependência pode vir a alastrar a outros extractos sociais.
São muitas as vítimas indefesas da evolução, das novas tecnologias e da economia global que podem vir a surgir. Não há valores sociais suficientemente partilhados para resistir às acometidas de novos factores, alguns dos quais exógenos.
Não é de mais contribuir para ajudar essas possíveis vítimas a criar defesas em relação aos “perigos” de um futuro incerto. Utilizemos todas as ferramentas que permitam favorecer e promover a coesão social e caminhemos em direcção ao futuro sem medo e com a destreza que só uma boa formação e os bons exemplos nos possibilitam.
O reforço da nossa identidade passa pela revitalização do espírito de entreajuda, por dar fôlego e energia aos valores pessoais e sociais que fortaleçam a harmonia social.
De todo nos falta o “queijo limiano” da humildade e do espírito.
Manuel de Sousa Pires Trigo
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