FORUM DE DEBATE POLÍTICO

sábado, fevereiro 18, 2006

O Vento sopra sobre o rio



Na calma pacatez do burgo algo se move. A dimensão terráquea, linear, unidimensional é subitamente posta em causa. A perturbação apodera-se das mentes mais sugestionáveis.
Tinham entrado num jogo que conheciam. Aprenderam durante anos a usar as armas da sugestão e do artifício. Estavam prestes, quase prestes a atingir objectivos de uma vida: A deferência, o “reconhecimento” da sociedade, o ego que se expande e se extasia, a chapelada, as benesses sem fim.
Mas eis que um leve vento sopra. Traz no seu ventre genes de lucidez. Espalha nas encostas as sementes da luz. Todos podem ter acesso à claridade.
O vento a todos vergasta e os seus olhos abrem-se extasiados.
A luz a uns encandeia e perturba e a outros clareia a vista e alivia.
Esses apercebem-se que o jogo estava viciado. Apercebem-se que o vento benfazejo é desviado da sua rota pelos que odeiam a luz.
A escuridão ameaça rodear todos. Aqueles que já conhecem os caminhos querem continuar a ser reis.
Mas alguém acorda também e se apercebe que tem de dar força ao vento. Que o vento se tem de tornar forte e irresistível. Que as trevas têm de ser vencidas.
Reis, candidatos a reis, reizinhos, animadores da corte tremei que o vento é impetuoso .


Manuel de Sousa Pires Trigo