CRISE
"Quem porcos procura em cada moita lhe roncam" Ditado vicentino.
Desde que me conheço, desde que comecei a tomar consciência da vida e do mundo que nos envolve e do qual fazemos parte, fui-me apercebendo que a palavra crise fazia parte do léxico português.
Este vocábulo de origem grega, muito usado na terminologia portuguesa, tanto pode significar alteração de uma situação doentia para melhor ou pior, ou então, uma conjuntura perigosa, grave, anormal ou aflitiva.
Ora, desde que se estabeleceu a democracia no nosso país, já lá vão mais de trinta anos, as situações de crise nunca deixaram de existir. Quer dizer que em democracia a crise é permanente, ou seja, o sistema político, social e económico democrático tem características intrínsecas de instabilidade estável, que fazem com que o equilíbrio social em todos os seus domínios seja uma sucessão infindável e permanente de salutares desequilíbrios.
É óbvio, que uma sociedade livre e democrática é, por princípio, constituida por cidadãos atentos, que expressam com regularidade a sua opinião, apoiam ou contestam decisões, manifestam satisfação ou insatisfação pelas situações de vida, em suma, são seres dinâmicos, que constituem uma sociedade dinâmica, moderna e actualizada, em constante mutação.
A insatisfação natural do ser humano, a necessidade que tem de proceder a novas descobertas, a levar a cabo novas realizações, faz dele um cidadão desejoso de atingir novos objectivos e, de forma positiva, ser um contestatário por natureza, pretendendo sempre ir mais além, superar ou superar-se.
Neste sentido a palavra crise ou as situações políticas e sociais críticas, têm naturalmente razão de ser, fazem parte do regime democrático. Mal seria se tal não acontecesse, pois a sociedade tornar-se-ia cinzenta, abúlica, desinteressante.
Certamente,deveremos preocupar-nos em fazer com que as situações de crise sejam vividas de forma activa mas pacífica, isto é, com conflitos verbais civilizados, com conflitos institucionais intensos e dentro das regras constitucionalmente estabelecidas, sem haver necessidade do uso da força no seu sentido mais negativo ou pejorativo.
A crise existiu, existe e existirá cada vez mais com a globalização. Enquanto existirem homens ávidos pelo saber e pelo conhecimento, interessados em viverem melhor e com mais justiça, desejosos de um futuro agradável para todos, certamente que a crise continuará a fazer parte do nosso quotidiano.
Que as nossas crises se mantenham, e permaneçam por muitos e longos anos, para bem, não só do crescimento, mas também, do desenvolvimento geral do país.
Jorge V. Silva
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