Síndroma ou complexo ?
"A tolerância é o património da razão" / Voltaire
Entendendo a política como tudo aquilo que diz respeito á nossa vida diária na sua multiplicidade de aspectos, direi que tudo é político, e que a política está permanentemente presente em todos os nossos actos.
Neste sentido, um bom jogo político, com adversários civilizados, inteligentes e respeitadores, tem o drama e a emoção que o cidadão comum, que nele não participe ou não se sinta integrado, não encontra no palco da vida.
Já nem sei se será uma síndroma política nacional ou se será um complexo político de superioridade/ inferioridade que muitos Portugueses, com frequência, continuam a revelar. são demasiados os sintomas, alguns deveras muito complicados.
Um exemplo que ilustra bem esta situação, que acontece amiúde, é o facto de termos hábitos adquiridos, de tal modo enraizados na vida diária, no nosso vulgar comportamento, que estamos perfeitamente convencidos e pensamos, (somos mesmo capazes de jurar a pés juntos e afirmar perenptoriamente) que são direitos, verdadeiros adquiridos, que não podem ser retirados.
Ora, como estamos mal habituados, quando surge algum reparo de natureza crítica, alguma modificação de ordem legal, quando nos apelam ao cumprimento de uma qualquer regra ou lei pré estabelecida, aqui d`el-rei quem m`acode, que é uma injustiça, que não se admite, que é um atentado aos mais elementares direitos, abaixo este, abaixo aquele, enfim!..........
porém, o que se torna imperioso, e é na verdade necessário, é estarmos muito atentos, muito bem informados, conhecermos o melhor possível a realidade que nos cerca, para que determinados tipos de juízos não surjam e não sejamos incorrectos nas análises das situações ou, de algum modo, mesmo inconvenientes.
Temos que fazer um esforço persistente no sentido de direccionarmos o nosso espírito crítico, a nossa natural e tradicional curiosidade, para a procura do verdadeiro conhecimento das coisas.
para podermos avaliar, temos de ter a humildade de procurar saber, saber cada vez mais e saber cada vez melhor. Dá trabalho? Claro que dá! Exige esforço? Claro que exige! É política? Claro que é! sem um pouco de trabalho activo e consciente, sem um pouco de esforço cívico coerente, dificilmente deixaremos de ser botas de elástico, nem ultrapassaremos a mediocridade, ocupemos o cargo que ocupemos, desenvolvamos a função que desenvolvamos, exerçamos a actividade que exerçamos.
Desta forma aquele típico lugar comum, aquela frase tão peculiar que todos os dias ouvimos do "assim também eu", que noutros países e noutas línguas não tem tradução, revela bem a inveja e egoísmo tão característicos em muitos portugueses, sintoma habitual da falta de conhecimento, da falta de formação, da falta de respeito e educação, da falta de compreensão, da falta de tolerância, em suma, da falta de espírito democrático, da ausência de razão, como diria, Voltaire.
Não terá sido por mero acaso ou fruto de uma qualquer circunstância, que "inveja" foi e é a última palavra dos "Lusíadas" de Luis de Camões.
Jorge Silva
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